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A Fascinante História da Indústria Automobilística no Brasil

A trajetória da indústria automobilística brasileira se confunde com a própria história do Brasil, refletindo os momentos de otimismo, crescimento, crise e recuperação.

18 NOV 2024 • POR Gentil dos Santos • 09h40
A Fascinante História da Indústria Automobilística no Brasil - arquivo

 Introdução

A indústria automobilística é um dos setores mais importantes e dinâmicos da economia brasileira.

Sua história remonta à década de 1950, quando as primeiras montadoras se instalaram no país, atraídas por um mercado promissor e políticas governamentais de incentivo.

Desde então, a indústria passou por altos e baixos, enfrentou desafios e se transformou, acompanhando as mudanças no cenário político e econômico do Brasil.

Neste artigo, vamos explorar a trajetória dessa indústria vital, desde seus primórdios até os dias atuais.

O Contexto dos Anos 1950 Para entender o surgimento da indústria automobilística brasileira, é preciso analisar o contexto político e econômico do Brasil na década de 1950.

Naquela época, o país vivia um momento de otimismo e crescimento, impulsionado pela industrialização e pela substituição de importações.

O governo de Getúlio Vargas (1951-1954) e, posteriormente, o de Juscelino Kubitschek (1956-1961) adotaram políticas desenvolvimentistas, com foco na atração de investimentos estrangeiros e na expansão da infraestrutura.

Nesse cenário, o setor automotivo despontava como uma oportunidade promissora. O Brasil tinha um mercado consumidor em expansão, com uma classe média urbana ávida por bens de consumo duráveis, incluindo automóveis.

Além disso, o país contava com uma base industrial em desenvolvimento, especialmente no estado de São Paulo, que poderia fornecer insumos e mão de obra para as montadoras.

A Chegada das Pioneiras

Foi nesse contexto que as primeiras montadoras estrangeiras decidiram investir no Brasil.

A pioneira foi a Volkswagen, que começou a montar o icônico Fusca em 1953, em um galpão no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

A empresa alemã apostava no potencial do mercado brasileiro e na possibilidade de exportar para outros países da América Latina.

Chevrolet Opala SS 1978 - Com linhas arrojadas, o Chevrolet Opala, foi um grande sucesso de vendas em sua época. A versão SS utilizava um motor 6 cilindros, 4.1. Esta motorização gerava cerca de 98cv, o que possibilitava fazer de 0 a 100 km/h em 18 segundos. Este modelo do Opala, na época custava Cr$ 32.000.000,00  

Logo outras gigantes do setor seguiram o exemplo da Volkswagen. A General Motors (GM) instalou sua fábrica em São Caetano do Sul (SP) em 1957, inicialmente produzindo caminhões e ônibus.

A Ford, que já atuava no Brasil desde 1919 com a importação de veículos, inaugurou sua primeira linha de montagem em 1958, também em São Paulo. A Fiat, por sua vez, chegou em 1976, com uma fábrica em Betim (MG).

1985 - Ford Escort XR3, portador de inúmeras inovações, cativou o público jovem da época. Esta versão, utilizava um motor 1.6 l (CHT) e gerava 82 cv. Na época este modelo custava cerca de Cr$ 72.000.000,00 (convertendo para o Real), aproximadamente R$ 265.000,00 

Essas montadoras pioneiras enfrentaram desafios logísticos e de infraestrutura nos primeiros anos. A malha rodoviária brasileira era precária, dificultando o escoamento da produção. Havia carência de mão de obra qualificada e de fornecedores locais de autopeças.

1991 - Com o Tempra, a Fiat buscou atuar no segmento de carros mais sofisticados. A versão Turbo mostrada nesta foto, fazia de 0 a 100 km/h em cerca de 8 segundos. Equipado com um motor com sistema de injeção multiponto 2.0 acoplado a um turbocompressor, gerava 165 cavalos, tornando o Tempra capaz de chegar à 220 km/h. Na época, seu preço era cotado em 40.000,00 dólares

Mesmo assim, elas perseveraram, apos tando no potencial de longo prazo do mercado brasileiro.

O presidente Juscelino Kubitschek incentivou a indústria automobilstica nacional

O Papel do Governo

O governo brasileiro desempenhou um papel crucial na atração e consolidação da indústria automobilística no país. Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956- 1961), foram adotadas políticas específicas para incentivar a vinda de montadoras estrangeiras.

O Plano de Metas de JK previa investimentos massivos em infraestrutura, como a construção de rodovias e a expansão da rede elétrica, criando as condições necessárias para o desenvolvimento industrial.

Além disso, o governo oferecia incentivos fiscais e cambiais para as empresas que decidissem se instalar no Brasil. Um marco importante foi o Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA), criado em 1956 para coordenar e fomentar o setor.

O GEIA estabeleceu metas ambiciosas de nacionalização da produção, exigindo que as montadoras utilizassem um percentual crescente de peças e componentes fabricados no Brasil.

Essa política visava desenvolver uma cadeia produtiva local e reduzir a dependência de importações. O governo também adotou medidas protecionistas, como a restrição à importação de veículos e o aumento de tarifas, para estimular a produção nacional.

Essas ações foram fundamentais para a consolidação da indústria automobilística brasileira em seus primeiros anos.

1976 - Fiat 147 GL, um dos primeiros modelos produzidos no Brasil, da então novata Fiat. Com um motor 1.3, conseguia impulsionar o modelo à velocidade de 141 km/h, sendo que da imobilidade aos 100 km/h precisava de cerca de 16 segundos. Outro destaque do modelo, foi o de ter sido o primeiro a utilizar um motor movido a álcool no mundo, em 1979. O preço do modelo mais completo na época, era algo na faixa de Cr$ 863.170,00 ou aproximadamente R$ 83.500,00 hoje

Impacto Social e Econômico

A implantação da indústria automobilística no Brasil teve um profundo impacto social e econômico. O setor se tornou um dos maiores empregadores do país, gerando milhares de empregos diretos nas montadoras e nas fábricas de autopeças.

1994 - Confiável e econômico, o Chevrolet Corsa, fêz sucesso no segmento popular. Produzido até 2015, teve motores 1.0, 1.4 e 1.8, com várias configurações e potência, sendo que posteriormente, ganhou a versão flex em todas as variantes. O primeiro modelo lançado em 1994, era vendido na faixa de R$ 7.500,00 quando o dólar variava em torno de R$ 0,90

Estima-se que, para cada emprego direto, foram criados outros três indiretos, em setores como comércio, serviços e logística. A indústria automotiva impulsionou o desenvolvimento de outras indústrias correlatas, como a siderurgia, a metalurgia e a petroquímica.

A demanda por aço, alumínio, plásticos e borracha cresceu vertiginosamente, estimulando a expansão desses setores. Houve um efeito multiplicador na economia, com o aumento da renda e do consumo das famílias.

Lançado em 1973, o Ford Maverick trazia motores de 4, 6 e 8 cilindros, além de um visual que continua agradando ainda hoje. A Ford produziu 5 modelos do Maverick: O top de linha, o Maverick GTO, com 195cv de potência, as custas de um motor V8 5.0l,  Maverick LDO com motor 4 cilindros 2.3l OHC, o Maverick Super Luxo Coupe 3.0, 6 cilindros em linha e 3.0l  com 132 cv. O modelo Maverick Super Luxo, disponibilizava duas motorizações; 6 cilindros, ou motor V8 de de 199 cv. E por final, o Maverick Super Luxo Sedan 5.0 V8 com 199cv de potência

Além dos empregos e do efeito de encadeamento, a indústria automobilística contribuiu para a modernização da economia brasileira.

As montadoras trouxeram novas tecnologias, métodos de gestão e práticas decontinuaqualidade, que se disseminaram para outros setores. A presença de empresas globais no país aumentou a competitividade e a produtividade da indústria como um todo.

Modernização das fábricas de automóveis no Brasil com uso de robôs e alta tecnologia

Evolução e Desafios

Ao longo das décadas, a indústria automobilística brasileira passou por transformações e enfrentou desafios. Nos anos 1980, o setor foi afetado pela crise econômica e pela alta inflação, que reduziram o poder de compra dos consumidores.

As montadoras tiveram que se adaptar, lançando modelos mais econômicos e investindo em tecnologias de eficiência energética. Na década de 1990, com a abertura comercial e a globalização, a indústria passou por uma reestruturação. Novas montadoras, como a Renault, a Peugeot-Citroën e a Toyota, entraram no mercado brasileiro, aumentando a concorrência.

Produzido durante 37 anos, o Fiat Uno, só parou de ser fabricado em 2021. Além de valor acessível, a confiabilidade angariada ao longo dos anos, e a fama de "econômico" explicam o sucesso do Uno. Com motores 1.0l e 1.3l, sua potência variava de 52 a 58cv respectivamente. Na busca incansável de tornar-se um veículo econômico, e por todas as outras qualidades, o Fiat Uno, conquistou longos anos de vida comercial

Houve uma onda de fusões e aquisições, além de investimentos em modernização das fábricas.

Nos anos 2000, o Brasil viveu um boom no mercado automotivo, impulsionado pelo crescimento econômico, pela expansão do crédito e por políticas de incentivo ao consumo, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

As vendas de veículos bateram recordes sucessivos, chegando a quase 4 milhões de unidades em 2012. No entanto, a partir de 2014, o setor enfrentou uma crise, com a recessão econômica e a queda na demanda. As montadoras tiveram que ajustar a produção, reduzir custos e rever investimentos.

Algumas fábricas foram fechadas e houve demissões em massa. Atualmente, a indústria automobilística brasileira busca se recuperar e se adaptar aos novos desafios, como a transição para a mobilidade elétrica e conectada, as mudanças regulatórias e a concorrência global.

O país ainda é um dos maiores mercados automotivos do mundo, com uma produção anual de cerca de 2,5 milhões de veículos e uma frota circulante de mais de 45 milhões. O Brasil é o 8º maior produtor mundial de veículos e o 6º maior mercado consumidor.

A indústria automotiva responde por cerca de 4% do PIB brasileiro e por mais de 20% do PIB industrial. São mais de 60 fábricas instaladas no país, de 26 grupos empresariais, gerando cerca de 500 mil empregos diretos e 1,5 milhão de indiretos.

Curiosidades e Marcos Históricos

•O primeiro carro a ser produzido em série no Brasil foi o Romi-Isetta, em 1956, pela fábrica de máquinas Romi, em Santa Bárbara d'Oeste (SP). Era uma versão do italiano Isetta, com motor de 2 tempos e apenas uma porta frontal.

•A Volkswagen Kombi, lançada em 1957, se tornou um ícone cultural brasileiro, sendo usada como ambulância, escolar, food truck e veículo de carga. Sua produção durou até 2013, a mais longa do mundo.

•Em 1959, surgiu o primeiro carro 100% nacional, o FNM JK, produzido pela Fábrica Nacional de Motores. Era uma berlina de luxo, batizada em homenagem ao presidente Juscelino Kubitschek.

•Nos anos 1960 e 1970, os carros de passeio mais vendidos no Brasil eram o Fusca e o Corcel, além da linha Chevrolet (Opala, Chevette) e dos Fiat 147 e Uno.

O Volkswagen Gol líder de vendas no Brasil por 27 anos consecutivos

•O Gol, lançado pela Volkswagen em 1980, foi o carro mais vendido do Brasil por 27 anos seguidos. Foram mais de 8 milhões de unidades produzidas em suas várias gerações.

Tecnologia flex, um marco da indústria automobilstica brasileira nos anos 2000

•Em 2003, foi lançado o primeiro carro flex do Brasil, o Volkswagen Gol Total Flex, que podia rodar com gasolina ou etanol em qualquer proporção. Hoje, cerca de 90% dos carros vendidos no país são flex.

•A fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP), inaugurada em 1967, foi a maior do Brasil, produzindo modelos icônicos como o Corcel, o Del Rey, o Escort e a Ranger. Ela foi fechada em 2019, após mais de 50 anos de operação.

•Em 2021, o Brasil bateu o recorde de produção de veículos, com 2,7 milhões de unidades, apesar dos impactos da pandemia de Covid-19 e da crise dos semicondutores.

O futuro da indústria automobilstica brasileira: carros elétricos e híbridos

Conclusão

A indústria automobilística brasileira tem uma história fascinante, marcada por desafios, superações e conquistas. Desde a chegada das primeiras montadoras, nos anos 1950, o setor passou por profundas transformações, acompanhando as mudanças no cenário político e econômico do país.

Ao longo dessas sete décadas, a indústria automotiva se consolidou como um dos pilares da economia brasileira, gerando empregos, renda e desenvolvimento.

Sua trajetória se confunde com a própria história do Brasil, refletindo os momentos de otimismo, crescimento, crise e recuperação.

Hoje, o setor enfrenta novos desafios, como a transição para a mobilidade sustentável, a digitalização e a concorrência global.

Mas, com sua capacidade de inovação, a indústria automobilística brasileira tem todas as condições para se reinventar e continuar sendo um motor de desenvolvimento para o país.

A história dos carros no Brasil é apaixonante, cheia de personagens visionários, modelos icônicos e feitos memoráveis.

Conhecê-la é fundamental para entender o passado, o presente e o futuro da economia e da sociedade brasileira.

Referência da Industria Automobilística Brasileira - Lançado em 1989, o Gol GTi  equipado com o motor AP-2000i, 4 cilindros longitudinal, com 120cv, que contava com sistema de alimentação multiponto da Bosch, o LE-Jetronic, tornou-se um verdadeiro clássico! Com transmissão manual de cinco marchas, este modelo da Volkswagen, ainda nos dias de hoje,  bem conservado, pode alcançar milhares de reais 

Fontes:

•ANFAVEA - Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores

•MDIC - Ministério da Economia

•Site da Volkswagen do Brasil

•Site da Ford do Brasil

•Site da Fiat Chrysler Automóveis Brasil